Esse sentimento nos faz priorizar as informações negativas e examiná-las de forma detalhada
Não é preciso ter depressão para acordarmos numa manhã qualquer e, sem motivo específico, nos sentirmos sem esperança no futuro e incapazes de lembrar eventos gratificantes. Uma simples falta de ânimo já é o suficiente para acionar uma espécie de filtro que faz nossa mente captar e recordar apenas informações negativas. É dessa forma que a ansiedade atua: direcionando a atenção para estímulos específicos (em geral negativos).
Para compreender se ela é um problema, é preciso observar como se manifesta. Há diferença entre ficar ansioso diante de uma situação que representa ameaça real e ter esse sentimento como um traço de personalidade. No primeiro caso, ela é normal e saudável, pois cumpre uma função adaptativa essencial para a existência. A ansiedade nos incita a focar toda atenção naquilo que nos preocupa em um momento específico, mantendo-nos alertas para que possamos nos prevenir de consequências que podem ser prejudiciais.
Para compreender se ela é um problema, é preciso observar como se manifesta. Há diferença entre ficar ansioso diante de uma situação que representa ameaça real e ter esse sentimento como um traço de personalidade. No primeiro caso, ela é normal e saudável, pois cumpre uma função adaptativa essencial para a existência. A ansiedade nos incita a focar toda atenção naquilo que nos preocupa em um momento específico, mantendo-nos alertas para que possamos nos prevenir de consequências que podem ser prejudiciais.
Pessoas com transtorno de ansiedade, no entanto, tendem a se fixar com frequência em informações irrelevantes. Chegam, por exemplo, a observar um mesmo ambiente repetidas vezes, à procura de estímulos ameaçadores que, uma vez localizados, são evitados e controlados com dificuldade. Elas interpretam informações de maneira desfavorável e são mais suscetíveis a pensamentos negativos. Esse comportamento interfere em praticamente todas as áreas de seu cotidiano.
Emoções e respostas
A ansiedade determina o tipo de informações que priorizamos e a forma como as interpretamos. Quando nos sentimos pressionados por alguma situação, a maioria de nós não é capaz de considerar mais de uma opção nem de acreditar que existem alternativas viáveis. No entanto, nos dias em que estamos felizes e otimistas, confiamos mais em nossas capacidades e a mente fica mais aberta para enxergar diferentes pontos de vista sobre o que nos preocupa. O problema pode ser o mesmo e talvez as opções sempre estejam ao alcance, mas a forma de processar as informações recebidas é sensivelmente diferente.
A ansiedade determina o tipo de informações que priorizamos e a forma como as interpretamos. Quando nos sentimos pressionados por alguma situação, a maioria de nós não é capaz de considerar mais de uma opção nem de acreditar que existem alternativas viáveis. No entanto, nos dias em que estamos felizes e otimistas, confiamos mais em nossas capacidades e a mente fica mais aberta para enxergar diferentes pontos de vista sobre o que nos preocupa. O problema pode ser o mesmo e talvez as opções sempre estejam ao alcance, mas a forma de processar as informações recebidas é sensivelmente diferente.
Essas diferentes maneiras de perceber o mundo são determinadas pelas emoções. De fato, alguns estados afetivos parecem moldar o funcionamento da mente para responder de maneira eficaz às demandas de uma situação. A ansiedade restringe o campo de visão da realidade e nos faz ver o mundo em “modo de ameaça”.
O modo como diferentes emoções acionam maneiras opostas de se processar uma mesma tarefa foi o tema de um de nossos experimentos. Selecionamos três grupos de estudantes para assistir a um vídeo que mostra um homem armado assaltando um banco. Em seguida, cada grupo visualizou, em separado, imagens com conteúdos emocionais diferentes: positivo (esportistas recebendo troféus, paisagens, famílias), negativo (acidentes, pessoas doentes, guerras) ou neutro (móveis, utensílios de cozinha). Após serem expostos a esses estímulos, os estudantes foram convidados a tentar reconhecer, entre fotos de vários homens, o rosto criminoso do vídeo.
Desempenhos diferentes
Os resultados mostraram que o grupo que havia visualizado as imagens com conteúdo positivo realizou o teste de forma mais eficiente. Todos os participantes do estudo haviam assistido ao vídeo do assalto e nenhum fora previamente avisado do que teria de fazer, mas os estímulos recebidos por cada grupo favoreceram ou complicaram a forma como a tarefa foi realizada.
Os resultados mostraram que o grupo que havia visualizado as imagens com conteúdo positivo realizou o teste de forma mais eficiente. Todos os participantes do estudo haviam assistido ao vídeo do assalto e nenhum fora previamente avisado do que teria de fazer, mas os estímulos recebidos por cada grupo favoreceram ou complicaram a forma como a tarefa foi realizada.
A explicação dos resultados obtidos é simples, se considerarmos que o reconhecimento de um rosto requer um estilo de processamento global: nossa atenção apreende desde aspectos gerais, como tamanho ou formato da cabeça, o tipo do cabelo ou a cor dos olhos até algum detalhe que pareça tornar aquele rosto inconfundível, mas que de forma isolada não seria determinante. Os estímulos positivos parecem favorecer esse estilo de processamento, que é o mais adequado para realizar tarefas que exigem a observação de aspectos gerais – dessa forma, esse grupo obteve “vantagem” sobre os que receberam estímulos neutros ou apreensivos.
Após esse experimento, os mesmos voluntários foram convidados a participar de mais um teste. Dessa vez, a tarefa exigia a atenção em detalhes. Orientamos os participantes a encontrar diferenças em jogos do tipo “sete erros”. Os três grupos tiveram a mesma quantidade de tempo para localizar diferenças entre pares de imagens aparentemente iguais. Como a ansiedade incita a observar detalhes e informações aparentemente irrelevantes (que podem converter-se em ameaça), as pessoas do grupo em estado de ansiedade foram mais eficazes nessa tarefa, achando um maior número de diferenças em menos tempo que os outros grupos.
Após esse experimento, os mesmos voluntários foram convidados a participar de mais um teste. Dessa vez, a tarefa exigia a atenção em detalhes. Orientamos os participantes a encontrar diferenças em jogos do tipo “sete erros”. Os três grupos tiveram a mesma quantidade de tempo para localizar diferenças entre pares de imagens aparentemente iguais. Como a ansiedade incita a observar detalhes e informações aparentemente irrelevantes (que podem converter-se em ameaça), as pessoas do grupo em estado de ansiedade foram mais eficazes nessa tarefa, achando um maior número de diferenças em menos tempo que os outros grupos.
Essa pesquisa mostra como a ansiedade age sobre nossa capacidade de atenção: ela pode nos ajudar a localizar até a mais insignificante ameaça, mas também pode contribuir para que vivamos continuamente apreensivos.
Antonia P. Pacheco Unguetti
Revista Mente e Cérebro – Abril/2011